III Fórum: “É urgente o desenho da estratégia para a Longevidade”

  • Publicado em 12 dezembro 2023

O recorde de inscritos na 3.ª edição do Fórum da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda era, logo à partida, um bom indicador do sucesso da iniciativa. Perante centenas de participantes, as intervenções dos especialistas convidados confirmaram a relevância do evento no despertar de consciências para dois temas fundamentais à sociedade: literacia para a longevidade e literacia financeira.

VEJA A EMISSÃO COMPLETA DO FÓRUM AQUI

Neste artigo, vai poder conhecer (ou recordar) as principais conclusões do Fórum “Literacia para a Longevidade e Literacia Financeira: Compromisso. Capacitação. Transformação”.

O ponto de partida:

A Presidente da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda deu as boas-vindas ao III Fórum, recordando que “a falta de alfabetização sobre a longevidade e também sobre a literacia financeira entre os portugueses são défices sociais graves”. Maria Amélia Cupertino de Miranda apontou também caminhos de futuro:

👉 “É urgente introduzir uma mudança de paradigma: dar visibilidade às pessoas mais velhas, eliminar visões idadistas e substituir a visão assistencial, pela da capacitação e pela reprogramação dos ciclos de vida”.

👉 “É urgente o desenho desta Estratégia para a Longevidade. (…) Portugal deve elaborar um plano nacional que preveja medidas concretas, com metas e indicadores específicos para medir a eficácia das políticas de apoio às pessoas mais velhas e assim criar condições para a construção de uma sociedade mais justa e coesa”.

Uma Cidade Amiga das Pessoas Idosas:

O Porto integra a rede mundial de Cidades Amigas das Pessoas Idosas e não fica à margem do envelhecimento: mais de um quarto da população residente (60 mil pessoas) tem mais de 65 anos e uma parte relevante pode estar em risco de isolamento social, como relembrou o Vereador da Educação e Coesão Social da Câmara Municipal do Porto. Ainda na sessão de abertura do evento, Fernando Paulo abordou a importância da defesa dos direitos dos seniores:

👉 “Achamos que os seniores não devem perder direitos nem cidadania. O que muitas vezes acontece é que, aparentemente e socialmente, a partir de uma determinada idade, é como se de repente as pessoas perdessem direitos, perdessem cidadania e isto tem muito que ver com a dignidade da pessoa humana e com os direitos humanos”.

👉 “(…) precisamos de novas respostas, novos olhares e novas intervenções, não só para mitigar os efeitos do atual envelhecimento populacional, mas também evitar as consequências futuras da inversão da pirâmide etária”.

Debate “Literacia para a Longevidade: o compromisso de uma nova geração”

Sob a moderação de Raquel Campos Franco, Professora da Católica Porto Business School, o primeiro painel abordou a longevidade como um assunto plural: desde logo, porque existem diferentes longevidades, mas também porque este deve ser um assunto de todos – não apenas dos mais velhos.

Maria João Valente Rosa, Professora da Fac. de Ciências Sociais e Humanas da Univ. Nova de Lisboa

👉“Falar da longevidade é um assunto que não interessa só às pessoas longevas. Interessa a todos, desde pequenos, desde que nascem.”

👉“Eu devo pensar a minha vida não em função dos anos que eu já vivi, mas em função dos anos que ainda tenho para viver [idade perspetiva] (…). A literacia para a longevidade é exatamente isso: é pensarmos no conjunto de ações que nos ajudam a viver esse tempo”.

👉 “O que é que nós temos de imaginar? É um modelo diferente de ciclo de vida (…) que combine de uma forma natural, em todas as fases da vida, momentos dedicados à formação, momentos de trabalho menos intenso nas idades centrais, mas mais prolongado, várias atividades ao longo da vida (…), paragens ao longo da vida para redesenhar novos projetos de vida (…)”.

Maria Joana Carvalho, Vice-Reitora da Univ. do Porto para as Relações Internacionais, Resp. Social e Desporto

👉“O facto de ser ativo ou não ser ativo dá-nos diferentes longevidades – não apenas na esperança média de vida, mas fundamentalmente naquilo que se tem aqui falado, de preparar os anos que temos para viver”.

👉“Muita da inatividade que nós temos não tem tanto a ver com fatores físicos, mas com fatores de idadismo, com fatores culturais, com o facto de que nós vendemos o exercício físico para populações mais novas em vez de vendermos para esta população”.

👉“Não existe exercício que seja impossível. Nós temos é de adaptar o exercício. E não existe idade para aprender”.

Luís de Melo Jerónimo, Diretor do Programa Equidade da Fundação Calouste Gulbenkian

👉“O que temos tentado explorar e incentivar é encontrarmos alternativas de resposta a cuidados: cuidados que integrem questões de saúde e sociais, no âmbito local”.

👉“Temos tentado perceber até que ponto conseguimos melhor qualificar serviços de apoio domiciliário, que, na maioria das vezes, apenas e só atendem a necessidades como a higiene, a alimentação, a limpeza. Se nós conseguimos incluir outro tipo de valências e de monitorização de alguns indicadores de saúde, vamos conseguir não só assegurar uma maior qualidade de vida para as pessoas, como também representar algumas poupanças para o Estado, porque sabemos que há muitas idas às urgências desnecessárias”.

👉“Não podemos viver num país que tem um tipo de cuidados para pessoas mais ricas e outro tipo de cuidados para pessoas mais pobres. Essa equidade nós precisamos de colmatar”.

Debate “Iliteracia financeira: uma barreira ainda não conhecida”

Sistema bancário, empresas, comunicação social e cidadãos. O que pode cada um fazer para aumentar os níveis de literacia financeira? Este foi um dos pontos em debate no segundo painel da tarde, que contou igualmente com moderação de Raquel Campos Franco.

Francisca Guedes de Oliveira, Administradora do Banco de Portugal

👉 Os dados de utilização de serviços financeiros digitais mostram “claramente a fragilidade adicional e o que isso implica para as pessoas mais velhas”.

👉“A escolha é dificílima, se nós não ajudarmos na literacia. E a escolha é: ou eu fico excluído financeiramente e não corro os riscos de ter uma app, de ter uma conta online (…) ou então não me excluo, vou tentar e vou-me expor a riscos adicionais”.

Maria Antónia Torres, PwC Lead Deals Tax Partner e Inclusion & Diversity Partner

👉 “A iliteracia em Portugal é bastante transversal: todos os setores de atividade, da economia e, portanto, todas as profissões”.

👉 “Muito típico em Portugal, sobretudo, nos negócios mais pequenos (mas que são muito importantes para a saúde da economia): as pessoas não perceberem, por exemplo, a diferença entre o dinheiro que o negócio gera (…) e se a empresa está a ser rentável ou não”.

👉 “Fizemos um estudo, na PwC, sobre o absentismo ligado à literacia financeira, para concluir que os problemas financeiros dos trabalhadores são uma das maiores causas de absentismo”.

Perdro Andersson, Jornalista da SIC

👉 “O grande problema que identifico na sociedade portuguesa (…) é: como é que nós podemos planear o futuro se não sabemos gerir o presente? Se não temos literacia financeira para pagar as nossas contas e sobrar-nos dinheiro, hoje, como é que eu vou ter dinheiro para pôr de lado?”

👉 “A literacia financeira tem de ser universal e obrigatória. Tem de ir para as escolas! Não pode depender só de iniciativas privadas. Tem de ser nas escolas públicas, nas escolas privadas e tem de ser para todas as crianças”.

👉 “É possível uma empresa aumentar os seus trabalhadores, sem lhes dar dinheiro. Ensinando-os a gerir aquilo que têm, melhora significativamente a vida das pessoas e reduz a ansiedade financeira que retira o foco dos trabalhadores”.

O ponto de chegada:

A encerrar o III Fórum esteve a Administradora Executiva da Fundação. Para além de recuperar as grandes conclusões do evento, Inês Abreu ligou-as à principal missão da Fundação: a capacitação para as temáticas da literacia financeira, desde muito cedo. A terminar, a responsável da Fundação convidou ainda todos os participantes a conhecerem, através de um vídeo, os quatro projetos de literacia financeira criados e desenvolvidos pela Fundação.