O impacto do aumento dos juros nas finanças pessoais: como se proteger
- Publicado em 25 julho 2022
Na última semana, o Banco Central Europeu (BCE) subiu a taxa de juro diretora, isto é, a taxa de juro à qual empresta dinheiro aos Bancos Comerciais, para 0,5%. Um aumento significativo, depois de seis anos de taxa de juro de 0% (desde março de 2016).
Inevitavelmente, a perspetiva deste cenário e a sua concretização influenciaram e irão continuar a influenciar o comportamento das taxas de juro interbancárias, que, por sua vez, servem de referência ao juro que os particulares e as empresas pagam ou recebem.
Uma das taxas de juro interbancárias mais conhecidas e utilizadas nas operações de crédito, concretamente, no crédito à habitação, é a Euribor. Esta é uma taxa de referência baseada na média dos juros praticados por um conjunto de 52 bancos da Zona Euro, nas operações que fazem entre si, e é determinada diariamente em função dos vários prazos, sendo que os mais utilizados são a 3, 6 e 12 meses. Esta informação é pertinente, sobretudo, para quem tem crédito com taxa de juro variável, indexada à Euribor. Significa que a taxa de juro a pagar ao banco pelo empréstimo vai ser revista em função do prazo da Euribor que foi estabelecido no contrato.
Desde junho de 2021 que a Zona Euro e a União Europeia têm registado uma tendência inflacionista, justificada pela pandemia e os sucessivos confinamentos que levaram à quebra das cadeias de abastecimento das matérias-primas e à subida dos preços da energia. Um contexto, mais recentemente, agravado com a guerra na Europa. Esta subida generalizada dos preços é traduzida na taxa de inflação homóloga (compara o nível da variável entre o mês corrente e o mesmo mês do ano anterior) registada na Zona Euro, em junho último, de 8,9%
Nesta atual conjuntura, é imperioso proteger as finanças pessoais, para que seja possível viver este período com um pouco mais de tranquilidade e manter o foco nos objetivos traçados. Deixamos aqui alguns passos que ajudam a proteger as finanças pessoais para tempos mais exigentes:
? Reavaliar as despesas – mais do que nunca é necessário fazer um levantamento das despesas, que deverá ser tanto mais detalhado quanto maior for a necessidade de ajustamento. Esta reavaliação só é possível a partir do registo das despesas e conhecimento do valor das mesmas por categorias. A partir desta informação, há que priorizar as despesas, por grau de importância, alterar alguns comportamentos de consumo que promovam a obtenção de poupança oculta e anular despesas que se revelem supérfluas.
? Reforçar o Fundo de Emergência – o Fundo de Emergência é a poupança destinada a amortecer o impacto das situações imprevistas e inesperadas que afetam o orçamento. O valor desta poupança deverá ser de 6 a 12 meses da média dos gastos mensais. Esta poupança deverá ser aplicada em produtos financeiros de baixo risco, com capital garantido e liquidez imediata. De referir que a subida de taxa de juro pode vir a beneficiar o aforrador, uma vez que pode passar a receber uma compensação maior por ter o seu dinheiro aplicado.
? Reavaliar a possibilidade de amortizar parcial ou totalmente o crédito – o primeiro passo será dirigir-se ao Banco onde o crédito está contratado e avaliar o impacto da subida da taxa de juro na prestação mensal a pagar ao Banco. Deverá ser solicitada uma simulação para o atual cenário e para um cenário mais pessimista, de forma a determinar com rigor o acréscimo verificado na prestação mensal associada ao empréstimo.
Posteriormente, há que reavaliar as despesas e as poupanças, ajustar o orçamento e eventualmente renegociar os créditos.
Nesta fase da tomada de decisão de reembolsar antecipadamente parte ou totalidade do crédito é necessário avaliar as vantagens e desvantagens. Um orçamento familiar mais folgado será certamente a vantagem mais imediata, mas não será única. A redução da taxa de esforço, a redução do valor do prémio do seguro de vida, associado ao crédito habitação, são outros benefícios que conduzem a uma maior liberdade financeira e a encarar o futuro com mais tranquilidade.
Apesar deste alívio financeiro imediato, na hora de reavaliar a eventual redução da dívida, deverá ter-se em conta as comissões cobradas pelo Banco pelo reembolso antecipado, a perda do benefício fiscal para efeitos do IRS quando associado ao crédito habitação e, ainda, eventuais perdas de benefícios associados à conta bancária, ou, por outras palavras, o agravamento das comissões bancárias associadas à conta à ordem.
? Procurar formas de realizar rendimento extra – muitas vezes o foco é colocado no lado das despesas e na procura de poupanças ocultas. A realização de um trabalho extra (como, por exemplo, o aluguer de uma divisão da casa a um estudante ou trabalhador deslocado, ou, ainda, a venda de bens que já não são utilizados) poderá ser uma fonte de rendimento adicional.
? Procurar manter a estratégia de investimento associada à poupança (que não o Fundo de Emergência) – apesar da volatilidade sentida nos mercados financeiros, a regra é não entrar em pânico e manter a estratégia de investimento previamente definida, até porque esta deverá ter sido definida numa ótica de médio e longo prazo, privilegiando a diversificação dos ativos financeiros, de forma a balancear os investimentos e a respeitar o perfil do investidor.